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 A dignidade e altivez de ABDIAS

A diretrizes politico-juridicas do fortalecimento da identidade nacional brasileira, contida no artigo 3.º do Estatuto da Igualdade Racial, emprestam força da história do ator e diretor de teatro, que se tornou político.

O exemplo de altivez e justiça de um negro com muita sabedoria, pouco comentado como símbolo de orgulho negro ou sabido de modo popular o tamanho de sua grandeza.

Ele era filho de sapateiro, neto natural de português, pois o seu pai não era considerado filho legítimo do imigrante. 

A mãe, além de trabalhar como cozinheira, doceira e costureira, também era contratada como ama-de-leite e era uma profunda conhecedora das ervas, sendo por isso muito procurada pelos vizinhos para a cura de determinadas enfermidades.

Também notabilizou-se por exercer funções de professor, economista, artista plástico, dramaturgo, escritor, poeta, intelectual, deputado federal e senador.

Através dos estudos ABDIAS DO NASCIMENTO E A LEI 10.639/03 de Maria Nilza da Silva, Professora Associada do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Estadual de Londrina (in Revista Teias v. 14 • n. 34 • 21-32 • (2013): Os 10 anos da Lei 10.639/2003 e a Educação), temos:

O depoimento de Abdias jovem, quando negou ser contratado para dar aulas para colonos europeus pobres no interior de São Paulo, demonstra sua altivez:

“De fato, eles chegaram até Franca, conforme oc  com um caminhãozinho da fazenda. 

Fizeram todas as compras necessárias: rações, produtos de limpeza, ferramentas e uns caixotes cheios de galinhas. 

Depois que entulharam a carroceria do caminhão com aquela parafernália toda é que foram me pegar; e queriam que eu subisse na carroceria para viajar no meio daquela bagunça, entre galinhas, rações e não sei mais o quê, como se eu fosse mais um peão de fazenda, que vai assim jogado, já sabendo do seu destino.

Ah! Mas comigo não, senhor! 

Aquilo me indignou de tal maneira que eu peguei a minha maletinha pobre lá de cima da carroceria e falei em bom tom, consciente, como se fosse gente grande com muita experiência de vida: 

‘Escutem aqui, vocês avisem lá que eu não vou para esta porcaria de emprego’. 

Não se tratava apenas do trabalho de guarda-livros, pois o acordo feito foi de que eu seria também escriturário e professor dos filhos dos colonos, e inclusive dos próprios colonos.

Como é que eu ia chegar lá na fazenda, para exercer uma atividade dessa, no meio de um monte de galináceos? 

Eles queriam é que eu chegasse envergonhado, humilhado… Não, eu não fui, não. Nem naquele dia, nem nunca mais..”

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