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População negra: a colonização como origem de sua marginalização

É inegável o fato de que, apesar de majoritária no Brasil, a população preta é alvo de incessante marginalização. Todavia, o mencionado cenário não teve início na contemporaneidade, sendo sua origem dada com a colonização do país (batizada como “descobrimento”, por conta da visão eurocêntrica), resultando em diversas consequências para a atualidade, como por exemplo a constante recriminação das periferias.

Em 1560, sessenta anos após à chegada dos portugueses ao Brasil, foram os primeiros registros de chegada de escravos africanos em terras brasileiras, a partir daí até a Lei Áurea e o fatídico fim da escravidão foram mais de 300 anos que gerações de africanos foram escravizadas em território nacional, brancos possuíam escravos pretos, ou seja, a “supremacia branca” perdurou por muitos anos no Brasil gerando reflexos profundos. Com esse cenário pode-se compreender uma incontestável razão pela qual atualmente a população negra é vítima de marginalização e do ostracismo.

Ademais, há de se levar também em consideração o fato de que “coincidentemente” as periferias, ocupadas de modo majoritário pela população negra, segundo o IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), são extremamente marginalizadas. Tal situação se originou no ato da abolição da escravatura, tendo esta sido realizada sem qualquer política pública de inserção dos (até então) escravos à sociedade, ou seja: o modelo de vida a eles imposto, basicamente consistia na exploração de sua força de trabalho, sem qualquer tipo de remuneração, porém aos donos desses “servos” cabia a função de prover alimentos e moradia, o que resultava em algo muito parecido com os conceitos de “suserania” e “vassalagem”, existentes na idade média, nos quais o vassalo recebia do senhor feudal frações de terra para plantar e subsistir, entretanto quase toda a sua produção deveria ser paga como forma de “imposto” ao proprietário do local, inclusive, durante esse período, era comum que os vassalos trabalhassem por demasiadas horas em um dia, não tendo quaisquer direitos, somente obrigações, modelo extremamente semelhante ao escravocrata. Com a “libertação”, então, esse povo se viu perdido, partindo do princípio de que agora não sabia onde arrumaria comida ou moradia, razão pela qual boa parte encontrou nos morros seu refúgio, dando origem às chamadas “comunidades”. Por conta de terem sido considerados “coisas”, propriedades, aos ex escravos foram atribuídos diversos estigmas, não sendo vistos pelo restante da sociedade como seres humanos, o que explica o enorme preconceito sofrido pelos arrabaldes na atualidade, visto que estes foram formados por essa camada social.

Desse modo, observa-se que a marginalização manifestada contra os afrodescendentes brasileiros tem suas raízes na época da colonização, afetando-os até os tempos atuais. Portanto, depreende-se que é de suma importância não só o conhecimento da história nacional, como também a realização de políticas públicas que visem a conscientização social acerca do porquê de boa parte da população componente do território brasileiro apresentar pensamentos racistas, fazendo-a enxergar o racismo em si como algo estrutural. O Brasil teve em sua base imensuráveis práticas escravistas, associando assim a imagem do indivíduo preto à escravo, à “coisa”, à ser inferior ao branco, o que se perpetuou, sendo realidade nos tempos contemporâneos, ainda que inconscientemente, fato este que pode ser solucionado, mesmo que não por completo, pela conscientização (acrescida do conhecimento) da nação brasileira sobre suas origens, e principalmente: Sobre como lidar com elas. A elaboração de políticas públicas conscientizadoras, no entanto, não irá simbolizar o fim da luta contra o racismo, mostrando-se apenas como o real início dela, o que é demasiadamente necessário, pois a única forma de atingir a sociedade igualitária, visada pela Carta Magna vigente na pátria, é o início da real luta pela justiça.

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