Se você é branco nos Estados Unidos, a escritora e consultora em questões de justiça social Robin DiAngelo tem uma mensagem para você: você é racista, pura e simplesmente, e sempre será, sem uma vida inteira de esforço consciente. É algo que não dá para evitar, porque você entrou no casulo do privilégio branco desde que saiu do ventre de sua mãe.
“Como assim eu sou racista?” – você pode estar se perguntando, indignado. Afinal, você tem colegas negros que considera amigos; não vê a cor da pele; nunca teve escravos; marchou nas manifestações dos anos 60; você até protesta hoje contra as “maçãs podres” de uniforme que usam o poder de sua autoridade para ceifar vidas e direitos das minorias.
“Como você ousa dizer que eu sou como eles?”, você pode reclamar, enquanto afaga seus sentimentos feridos e frágeis ao seu redor.
E aí – com este simples ato – você personifica o tema do livro mais vendido de DiAngelo em 2018, “White Fragility: Why It’s So Hard For White People To Talk About Racism” (“Fragilidade branca – por que é tão difícil para brancos falarem sobre racismo”, em tradução livre, sem edição no Brasil).
O que começou como um ensaio escrito em 2011 sobre injustiça racial e social se tornou um best-seller internacional, saindo das prateleiras virtuais da internet para as casas daqueles horrorizados pelos eventos recentes de racismo.
A CNN conversou com Robin DiAngelo para falar sobre os protestos dos dias atuais, como eles se encaixam na história do movimento pelos direitos civis e o que os brancos precisam fazer agora. A conversa foi editada para ter mais fluidez e clareza.
VIVEMOS UM MOMENTO “ME TOO” PARA A IGUALDADE RACIAL OU A CONVERSA VAI DESAPARECER COMO ACONTECEU NO PASSADO?
Robin DiAngelo: Acho que há algumas coisas diferentes neste momento. Primeiro, ele está se mantendo. Não é apenas uma marcha, um protesto. É um movimento em andamento e que se espalha pelo mundo.
Existe um discurso na grande mídia que eu acho que nunca ouviria em minha vida. Aqueles de nós que batem nessa tecla há anos estão finalmente ouvindo frases como “racismo sistêmico” usado na mídia convencional.
Os dois livros mais vendidos no mundo atualmente são sobre racismo, um escrito por mim, uma pessoa branca, e outro escrito por Ibram X. Kendi, uma pessoa negra. Você pode pesquisar no Google “O que as pessoas brancas podem fazer agora?” e vai ser inundado com excelentes listas de recursos e orientações.
Há uma discussão sobre reparações para os descendentes de africanos escravizados acontecendo no espaço de debate democrata. Pela primeira vez na história, acho, uma pesquisa recente mostrou que mais norte-americanos brancos acreditam que há vantagens em ser brancos do que aqueles que não acreditam nisso.
São avanços imensos. Mas que precisam ser mantidos e estou um pouco preocupada com o que acontece quando as câmeras são desligadas. É aqui que me lembro da teoria do ponto da virada do [jornalista e autor] Malcolm Gladwell: só é preciso ter 30%. Quando fico desanimada, me lembro disso porque penso: “temos 30%. Vamos continuar”.
Mas quero ir além e dizer que há uma diferença neste momento. Estou arrasada que a gente tenha pagado esse preço: testemunhar mais um – não apenas um, mas mais um – negro assassinado da maneira mais insensível e pública possível.
Tomara Deus que esse momento não seja desperdiçado no sentido do que ele despertou.